O sentir das cordas, o uso do tato, a concentração, a audição, a vontade, são aliadas de quem deseja tocar, mesmo que simploriamente e sem o auxílio da visão. Sabe-se que ouvir falar não é ver. Mas minha emoção vem justamente da minha busca diária em ensinar a arte do violão para uma deficiente visual.
Feito o diagnóstico conclui que, se seu tato, e sua audição funciona perfeitamente não haverá limites que não possam ser ultrapassados. Se as cordas, além do som, possuem espessuras distintas, será fácil segundo o interesse do professor.
Minha experiência começou em meados de Março de 2009 quando uma aluna do colégio que já me percebia no pátio, e, ouvindo outros alunos tocarem, me procurou timidamente. Ela tem 12 anos e não enxerga de um olho, conta apenas com poucos porcentos do outro.
Na primeira aula - teórica – explicou-se a poesia das cordas e da arte advinda da mistura de culturas, findando neste que chamamos de violão (aqui no Brasil).
Seguiu-se para a parte prática: O que são cravelhas; a caixa de ressonância; o cavalete; a pestana; as cordas... o uso dos gráficos (desenhos) dos acordes no material didático. Foi aí que meus olhos lacrimejaram.
Na semana seguinte, conforme didática, deixei a menina livre para treinar enquanto atendia os outros alunos. No retorno, para mostragem ao professor, perguntei se já havia aprendido alguma coisa. Ela disse: sim. (já deslizando os dedos no braço do instrumento...).
Cada mudança de acorde era dificultada pelo debruçamento sobre ele. Com a vista “em cima”, conseguia achar o que queria e já tocava. Outro dia na direção ví seu nome numa lista de atenção especial. Voltei pra sala e sem o 'ar de boa samaritana', menos ainda de torna-la 'coitadinha', seguiu-se normalmente as instruções:
* Manter a postura e não ficar debruçada(o) no braço.
* Sentir as cordas com os dedos.
* Gravar na memória os sons das cordas e dos acordes.
* Contar, com o tato, a distância das casas e memorizá-las.
* Procurar treinar sempre.
Para a garota não deixo de dar as cifras, pois em casa sua mãe precisa ler a música pra ela tocar.
Procuro estar perto e evitar que adquira má postura, ou aprenda algo errado. Não sei se sou uma boa professora. Não obstante, sinto que um bom educador, indiscutivelmente sente o que falta em seus alunos.
OUTRAS INFORMAÇÕES:
No Projeto Música na Escola, há um aluno com baixa visão e umdeficiente físico (nesta unidade escolar).
CURIOSIDADE:
Beethoven - já surdo - não limitou-se pelo transtorno auditivo. Entre suas mais belas obras está a Nona Sinfonia (Ode à Alegria).
Cleo Andrade Professora de Música do CEB Maria Pereira Brandão
2 comentários:
Olá!!
Fico muito feliz com o apoio que recebo da Secretaria e da Coordenação de Cultura e seu pessoal maravilhoso.
Agradeço, inclusive, pela atenção com a escola.
Abraço: Cleo
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